SOBRE O BLOCO
A arte do Bloco foi concebida sob a percepção artística da segunda década do século XX. Entre os movimentos artísticos que surgem e influenciam nossa cultura, estava o Art Nouveau, que, embora passando na Europa, ainda resistia em terras brasileiras. Esse estilo tinha forte presença gráfica em peças de publicidade e outros impressos, incluindo os “selos” dos discos de vinil da época. Elementos do Art Nouveau emolduram o bloco da Emissão, que traz na ilustra- ção do selo postal o momento de reunião da Roda de Samba, onde os sambas eram criados e tocados, com músicos e as baianas, estas sempre presentes, sobre o que seria um disco de vinil, e a mesa o “selo”, fazendo uma alusão a gravação do primeiro samba em 1917. O ambiente remete a tradicional Praça Onze da cidade do Rio de Janeiro à época, com seus morros ocupados e de onde toda cor e música eram trazidas por seus moradores na criação desse gênero musical. Foi utilizada técnica de ilustração vetorial.
ABOUT THE SOUVENIR SHEET
The art of the souvenir sheet was conceived under the artistic perception of the second decade of the 20th Century. Among the artistic movements that emerged and influenced our culture, was Art Noveau which, although almost gone in Europe, still resisted in Brazilian soil. This style had strong graphic presence in publicity pieces and other printed material, including the labels of vinyl LPs of that time. Elements of Art Nouveau compose the frame of the souvenir sheet of this is
sue, which brings, in the illustration of the postal stamp the moment of the gather ing of the Roda de Samba, where the sambas were created and played, with the musicians and the Baianas, always present, over what would be a vinyl LP. The table represents the label, making reference to the recording of the first samba, in 1917. The ambiance refers to the traditional Praça Onze, in Rio de Janeiro of that time, with its hills occupied and from where every color and music were brought by its inhabitants for the creation of this musical genre. Vector Illustration technique was used in this issue.
DETALHES TÉCNICOS
Edital nº 3
Arte: Daniel Effi – Correios
Processo de Impressão: ofsete
Bloco com 1 selo
Papel: cuchê gomado
Valor facial: 1º Porte Carta
Comercial
Tiragem: 90.000 blocos
Área de desenho: 38mm x 38mm
Dimensão do selo: 38mm x 38mm
Picotagem: 11,5 x 11,5
Data de emissão: 23/06/2017
Locais de lançamento: Rio de Janeiro/RJ, Ubá/MG, Cuiabá/MT e Porto Velho/RO
Impressão: Casa da Moeda do Brasil
TECHNICAL DETAILS
Stamp issue N. 3
Art: Daniel Effi – Correios Brasil
Print system: offset
Souvenir Sheet with 1 stamp
Paper: gummed chalky paper
Facial value: 1st Class Rate for Domestic Commercial Mail
Issue: 90,000 souvenir sheets
Design area: 38mm x 38mm
Stamp dimensions: 38mm x 38mm
Perforation: 11.5 x 11.5
Date of issue: June 23 rd , 2017
Places of issue: Rio de Janeiro/RJ, Ubá/ MG, Cuiabá/MT e Porto Velho/RO
Printing: Brazilian Mint
Cem Anos do Samba
Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil Símbolo da nossa nacionalidade, reconhecido internacionalmente, expressão cultural e social originária das populações afrodescendentes, incorporada ao cotidiano de todos os brasileiros, de Norte a Sul do país, o Samba recebe nessa emissão dos Correios o reconhecimento do seu poder integrador, ressaltando os valores e tradições das comunidades de sambistas que construíram o seu legado e movem a sua história rumo ao futuro. A gravação do samba “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, em 1916, é um marco sinalizador do que viria a acontecer com essa arte. Nascida nos terreiros, se espalhou pelas cidades. Arte que é canto, ritmo, dança, mas principalmente um modo de vida, que compreende toda uma série de tradições ligadas a sentimentos de pertencimento e identidade comunitárias. Samba é reunião, é festa, é celebração. Como tal, quando há samba, há comidas, bebidas, vestimentas, instrumentos musicais, interseções religiosas, que compõem o seu cenário, o seu lar, seja uma quadra de uma agremiação carnavalesca, uma roda de samba num bar ou uma festa na casa de amigos. Quando falamos em escolas de samba, vemos as cores tradicionais, as bandeiras (os pavilhões protegidos pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira), os símbolos (como a águia da Portela e a coroa do Império Serrano), os padroeiros, os toques típicos de cada bateria, inspirados, quando ainda preservados, nos de cultos religiosos de matriz africana, toda uma tradição que se revivifica a cada nova reunião dos sambistas, a cada nova criação de um samba de terreiro, a cada novo desfile no carnaval. Mas o samba é muito mais. Não é só carnaval, com alguns pensam. Ele é uma expressão vivida no cotidiano, se dá o ano todo, no dia a dia dos brasileiros. No começo do século XX, o samba foi perseguido, assim como outras expressões populares. Foi tratado com preconceito e como caso de polícia. A resistência das comunidades e o trabalho incessante de lideranças como os sambistas Paulo da Portela e Cartola, para citar dois entre muitos outros, mudou esse quadro. As classes mé-dias foram atraídas pela arte e beleza do samba. A indústria fonográ-fica e o rádio logo viram o seu potencial aglutinador, a sua força criativa e a sua intensidade vibrante, que encantavam o país. Daí a ser reconhecido como símbolo de identidade nacional foi um passo. Um passo difícil, dado com muita luta, uma conquista. Nos morros e nas ruas, o batuque do samba se tornou o Brasil. Das senzalas onde sofreram os escravos, vieram a música e a dança que mudaram e ainda mudam o país. Então, além de manifestação cultural, é expressão de uma luta libertadora, pela igualdade, pela cidadania, pela integração. Em 2007, o samba – nas variações partido-alto, samba de terreiro e samba-enredo – recebeu do Instituto do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional (Iphan) o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil. Esse reconhecimento ajudou a abrir novos espaços e a valorizar comunidades de sambistas, preservando e registrando os fundamentos de sua arte, alimentando a sua evolução constante no diálogo com as novas gerações, sustentando os fluxos de transmissão de conhecimentos através da atuação das Velhas Guardas das escolas de samba. Raiz e árvore que só crescem. Mas ainda há muito por conquistar. Foi da adversidade que se ergueu o samba brasileiro – sua poesia, sua vibração, seu molejo. Vamos celebrar o legado dos nossos antepassados africanos e dos sambistas históricos, além de exaltar a força criadora das atuais gerações, que não deixam e não deixarão o samba morrer, nunca.
Aloy Jupiara
Conselheiro e Pesquisador do Museu do Samba
One Hundred Years of Samba
Brazil’s Intangible Cultural Heritage A symbol of our nationality, internationally recognized, a cultural and social expression originating from the population of African descent and now incorporated into the daily life of all Brazilians, from north to south of the country, samba is the subject of this stamp issue recognizing its power to bring people together, highlighting the values and traditions of the communities of sambistas who build their legacy and move their history into the future. The recording of “Pelo telefone”, by Donga and Mauro de Almeida, in 1916, is a landmark and a sign of what was to come in this musical art. Born in the yards of shacks and poor homes, it spread through the cities. Art which is singing, rhythm, dance but, above all, a way of life that includes a whole series of traditions linked to belonging to a community and identity. Samba is getting together, party, it is celebration. As such, when there is samba there is food and drink, costumes, musical instruments, religious overlaps that all together form its scenario, its home – the dance floor of a carnival association, a bar or a house party with friends. When we talk about Samba Schools, we see the traditional colors, the flags (the pavilhões protected by the mestre-sala and porta-bandeira), the symbols (the eagle of Portela or the crown of Império Serrano), the patron saints, the typical tones of each drum inspired, when still preserved, by AfroBrazilian religious rites, a whole tradition revived each time sambistas come together, with the creation of each new samba, with each carnival parade. But samba is much more. It is not just carnival, as some may think. It is an expression experienced in daily life, it is all year round, in the day-to-day lives of Brazilians. In the early 20th century, samba was persecuted, along with other popular expressions. It was treated with prejudice and as a police matter. The resistance of the communities and the tireless workof leaders such as the sambistas Paulo da Portela and Cartola, to name just two among many, changed this situation. The middle classes were attracted by the art and beauty of samba. The recording industry and radio stations soon saw its unifying potential, creative force and vibrant intensity which enchanted the nation. From there, it was just a step to becoming recognized as a symbol of national identity. A difficult step, taken with much struggle, a conquest. On the hills and on streets, the beat of the samba became Brazil. From the suffering in slave quarters were born the music and dance that would change, and is still changing, the country. Therefore, beyond a cultural manifestation, it is the expression of a struggle for liberty, for equality, for citizenship, for integration. In 2007, the National Institute of Historical and Artistic Heritage - Iphan, awarded samba – in its variations of partido-alto, samba de terreiro and samba-enredo – the title of Brazilian intangible cultural heritage. This recognition contributed to the opening of new spaces and guaranteed that the communities of sambistas were valued, preserving and recording the fundament of their art, nourishing their constant evolution in dialogue with the next generations, supporting the flows of transmission of knowledge, represented by the Old Guard of the Samba Schools. Roots and trees that keep on growing. But there is more to conquer. Brazilian samba was built on adversity – its poetry, vibration and movement. Let’s celebrate the legacy of our African ancestors and historical sambistas, as well as honor the creative forces of the new generations, who have not, and never will, allow samba to die out.
Aloy Jupiara
Advisor and Researcher – Museu do Samba
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