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Lançamento | Mulheres Brasileiras que Fizeram História Carolina Maria de Jesus


Sobre os Selos

Essa emissão é composta por seis selos, celebrando seis Mulheres que fizeram e fazem história. A quarta homenageada é uma das primeiras escritoras negras do Brasil, a singular Carolina Maria de Jesus. A imagem é uma foto que foi tirada na favela de Canindé, São Paulo, em 1958. O elo desta emissão é o símbolo da mulher, que consta em todos os selos. A folha com borda na cor magenta, é composta por 18 selos, tendo o título da emissão no canto superior esquerdo e no canto superior direto desenhos estilizados de um caderno, um lápis e letras caligráficas. Foram usadas as técnicas de fotografia e computação gráfica.






Mulheres que Fizeram História - Carolina Maria de Jesus

Os selos postais, desde o seu surgimento, em 1840, na Inglaterra, iniciaram a grandiosa missão de propagar a história universal e de comunicar os grandes e abnegados feitos daqueles que se dedicaram à construção de valorosas obras em vários contextos socioculturais. Assim, o primeiro selo postal do mundo, o penny black, exibia a efígie da Rainha Vitória, perpetuando o perfil de uma soberana inglesa, reconhecida por sua coragem e determinação frente aos desafios de sua época. Daí compreendermos que o selo já nasceu predestinado a marcar com nobreza os fatos por ele assinalados. São inúmeros os selos postais brasileiros dedicados às mulheres e suas obras. É gratificante verificar o quão nobre tem sido a presença da mulher na Filatelia, destacando a sua função em vários contextos, mostrando que as mulheres estão cada vez mais conscientes dos papéis que desempenham na sociedade. É, portanto, compreensível e justo que mulheres valorosas tenham as suas contribuições e os seus valores perpetuados em selos postais, que são os mensageiros da paz universal. Os selos postais chegaram ao século 21 comunicando personalidades, obras e aspectos artísticos, históricos, sociais, ambientais e desportivos, que o Brasil e o mundo precisam reverenciar. Nesse contexto, as mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais importante na sociedade, vencendo lutas de vários significados, buscando assegurar seus direitos frente a uma vida digna, segura e pautada no respeito à liberdade, à igualdade e defesa de seus ideais. Mais uma vez, a filatelia brasileira tem a honra de emitir selos sobre mulheres. Agora será a vez de Mulheres que Fizeram História, destacando seis personalidades vencedoras em suas vidas. São elas: Elza Soares, Hortência Marcari, Hebe Camargo, Carolina Maria de Jesus, Maria da Penha e Aracy de Carvalho Guimarães Rosa. As mulheres merecem essa honraria, que também dignifica e enriquece a Filatelia brasileira. Esses selos representam o reconhecimento do Brasil e do mundo à história de vida, de trabalho e de força que as motivaram em suas jornadas. No quarto selo da série, chegamos à história de Carolina Maria de Jesus, considerada uma das primeiras escritoras negras do Brasil. Carolina nasceu em 14 de março de 1914, em Sacramento, Minas Gerais, e morreu em 13 de fevereiro de 1977, aos 62 anos, em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo. Carolina Maria de Jesus hasteou por toda a sua vida a bandeira do trabalho e da confiança em seus ideais. Foi uma mulher que acreditou em si mesma, honrou suas origens e trilhou o caminho da esperança. Viveu um período de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, sustentando a si mesma e aos três filhos com os recursos advindos de sua atividade como catadora de papéis. Em sua jornada era notória a sua paixão pela poesia. Carolina ousava na prática salutar de escrever versos com a delicadeza e sabedoria daqueles que, apesar de conscientes de suas dificuldades e carências, fazem das diversidades a glória de ser maior entre tantos. Em seu livro “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada”, 1960, assim manifestou-se Carolina Maria de Jesus: “A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago.” Em 1937, após a morte de sua mãe, mudou para São Paulo, onde trabalhou como faxineira e empregada doméstica. Em 1947, aos 33 anos, desempregada e grávida, Carolina instalou-se na extinta favela do Canindé. Nessa ocasião, conseguiu emprego de doméstica na casa do famoso cardiologista Euriclydes de Jesus Zerbini, médico precursor da cirurgia do coração, no Brasil. Nessa casa, nos dias de folga, Carolina lia os livros da vasta biblioteca, fato que muito contribuiu para que o seu veio poético se confirmasse. Aqui vale ressaltar que nos nomes de Carolina e Euriclydes, Jesus aparecia como uma intercessão, unindo essas pessoas em suas trajetórias dedicadas ao bem e ao coração. Euriclydes cuidou da saúde fisiológica do coração e, Carolina, expressou em versos e prosa as suas dores e percepções em torno das emoções, que afetam sensivelmente as batidas desse órgão. E o seu coração vivia ávido por transformar em letras as suas inquietações frente à vida e suas agruras. Teve três filhos, João José em 1948, José Carlos em 1949 e a caçula Vera Eunice. Carolina nunca quis se casar. Foi pedida em casamento por alguns namorados, mas resolveu não aceitar, a fim de não ser submissa aos homens. Aqui nota-se o seu ideal de mulher livre e corajosa. Sobre essa questão, assim escreveu Carolina: “À noite enquanto elas pedem socorro, eu tranquilamente no meu barracão ouço valsas vienenses. Enquanto os esposos quebram as tábuas do barracão eu e meus filhos dormimos sossegados. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas. Não casei e não estou descontente.” Ao mesmo tempo em que trabalhava como catadora, Carolina registrava nos cadernos que encontrava no material recolhido em sua jornada, o cotidiano da comunidade onde morava. Foi descoberta, em 1958, pelo fotógrafo e repórter Audálio Dantas, e nesse mesmo ano trechos do seu diário foram publicados no Jornal Folha da Noite, e foi a publicação desses cadernos que deu origem a seu livro mais famoso: “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, com tiragem inicial de 10.000 exemplares, que se esgotou em uma semana. Esta obra vendeu mais de um milhão de exemplares e foi traduzida para quatorze idiomas, tornando-se um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior. Esta publicação trouxe a Carolina manifestações de insatisfação dos moradores da favela, que a acusavam de haver publicado suas vidas e dificuldades, sem autorização. Essas pessoas não compreendiam que justamente a miséria e a vida que levavam naquele ambiente, motivaram nossa escritora em seu verdadeiro grito de guerra. Esse livro representava a força motriz de sua obra marcada pela nua e crua realidade da favela focalizada no Livro. “Quarto de Despejo” mudou sua vida. Após sua publicação, em 1960, mudou-se para Santana, Bairro de classe média, na Zona Norte de São Paulo. Em 1961, publicou “Casa de Alvenaria”, e, em 1963, por conta própria, publicou o romance “Pedaços de Fome” e o livro “Provérbios”. Em 1969, Carolina mudou-se de Santana para Parelheiros, uma região árida da Zona Sul de São Paulo, no pé de uma colina. Nesse lugar, caracterizado por fortes contrastes entre ricos e pobres, onde o ar era poluído pelas indústrias do Grande ABC, Carolina passava boa parte de seu tempo sozinha, lendo jornal e plantando milho e hortaliças. Enquanto isso, seus versos e manuscritos fluíam, sendo utilizados, após sua morte, para inspirar futuras obras, como: “Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus” (1994), de José Carlos Meihy e Robert Levine; “Muito Bem, Carolina!: Biografia de Carolina Maria de Jesus” (2007), de Eliana Moura de Castro e Marília Novais de Mata Machado; “Carolina Maria de Jesus – Uma escritora improvável” (2009), de Joel Rufino dos Santos; “A vida escrita de Carolina Maria de Jesus”, de Elzira Divina Perpétua; e “Carolina: uma biografia” (2018), de Tom Farias. Assim foi Carolina Maria de Jesus. Seus versos a definem poeta triste em suas indagações. Vejamos: Poeta, por que choras? Que triste melancolia. É que minh’alma ignora O esplendor da alegria. Este sorriso que em mim emana, A minha própria alma engana. Agora, Carolina Maria de Jesus enriquece a Filatelia brasileira com sua presença em um selo postal.

Maria de Lourdes Torres de Almeida Fonseca

Escritora, Cadeira 35 da Academia de Letras e Música do Brasil – ALMUB


Detalhes Técnicos

Edital nº 24

Foto: Acervo de família

Arte-finalização: Jamile Costa Sallum e Daniel Eff/Correios

Processo de Impressão: ofsete

Papel: cuchê gomado

Folha com 18 selos

Valor facial: 1º Porte Carta Comercial

Tiragem: 54.000 selos

Área de desenho: 21 x 39mm

Dimensão do selo: 26 x 44mm

Picotagem: 11,5 x 11

Data de emissão: 4/10/2019

Locais de lançamento: Sacramento/MG e São Paulo/SP

Impressão: Casa da Moeda do Brasil


 

Women Who Made History Carolina Maria de Jesus


About the Stamps

This issue consists of six stamps, celebrating six Women who made and make history. The fourth honoree is one of the first black writers of Brazil, the singular Carolina Maria de Jesus. The image is a photo that was taken in the Canindé favela, São Paulo, in 1958. The link of this issue is the symbol of the woman, which appears on all stamps. The magenta bordered sheet is made up of 18 stamps, with the title of the issue in the upper left and upper right corner stylized designs of a notebook, a pencil and calligraphic letters. The techniques of photography and computer graphics were used.


Women Who Made History - Carolina Maria de Jesus

Since its establishment in 1840 in England, postage stamps have begun the great mission of propagating universal history and of communicating the great and selfless achievements of those who have devoted themselves to the construction of valuable works in various sociocultural contexts. Thus, the world’s first postage stamp, the penny black, displayed the effigy of Queen Victoria, perpetuating the profile of an English sovereign, renowned for her courage and determination in the face of the challenges of her day. Hence, we understand that the stamp was born predestined to mark with noblesse the facts that it pointed out. There are innumerable Brazilian stamps dedicated to women and their works. It is gratifying to see how noble the presence of women in Philately has been, highlighting their role in various contexts, showing that women are increasingly aware of the roles they play in society. It is therefore just that valiant women should have their contributions and their values perpetuated in postage stamps. Postage stamps arrived in the 21st century, communicating personalities, works and artistic, historical, social, environmental and sporting aspects that Brazil and the world need to revere. In this context, women have played an increasingly important role in society, overcoming struggles of various meanings, seeking to ensure their rights to a dignified and safe life based on respect for freedom, equality and defense of their ideals. One more time, Brazilian Philately has a great honor to issue postage stamps about women. At this time, “History-maker Women”, an issue that highlights six personalities well succeeded in their lives. They are: Elza Soares, Hortência Marcari, Hebe Camargo, Carolina Maria de Jesus, Maria da Penha and Aracy de Carvalho Guimarães Rosa. Women deserve this honor, which also dignifies and enriches Brazilian Philately. These stamps represent the recognition of Brazil and the world to the history of life, work and strength that motivated their journeys. In the fourth stamp of the series, we have the story of Carolina Maria de Jesus, considered one of the first black writers of Brazil. Carolina was born on March 14, 1914, in Sacramento, Minas Gerais, and died on February 13, 1977, at age 62, in Parelheiros, in the South Zone of São Paulo. Carolina Maria de Jesus has raised the flag of work and confidence in her ideals all her life. She was a woman who believed in herself, honored her origins and walked the path of hope. She lived a period of her life in the Canindé slum, in the North Zone of São Paulo, supporting herself and her three children with the resources that came from her activity as a waste picker. On her journey, her passion for poetry was notorious. Carolina dared the salutary practice of writing verses with the delicacy and wisdom of those who, despite being aware of their difficulties and needs, make diversity the glory of being greater among so many others. In her book. “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada (Eviction Room: Diary of a Slum Dweller)”, from 1960, Carolina Maria de Jesus said: “The dizziness of hunger is worse than that of alcohol. The dizziness of alcohol impels us to sing. However, hunger makes us shiver. I realized it’s horrible to have only air in my stomach.” In 1937, after her mother’s death, she moved to São Paulo, where she worked as a house cleaner and domestic servant. In 1947, at the age of 33, unemployed and pregnant, Carolina settled in the extinct Canindé slum. On this occasion, she got a job as a domestic servant at the house of the famous cardiologist Euriclydes de Jesus Zerbini, precursor doctor of heart surgery in Brazil. In this house, on her days off, Carolina read the books of the vast library, a fact that greatly contributed to her poetic vein to be confirmed. Here it is noteworthy that in the names of Carolina and Euriclydes, Jesus appeared as an intercession, uniting these people in their trajectories dedicated to the good and the heart. Euriclydes took care of the physiological health of the heart and, Carolina, expressed in verse and prose her pains and perceptions around the emotions, which significantly affect the beats of this organ. In addition, her heart was eager to turn her worries about life and her hardships into letters. She had three children, João José in 1948, José Carlos in 1949 and the youngest, Vera Eunice. Carolina never wanted to get married. She was proposed by some boyfriends, but decided not to accept, so as not to be submissive to men. Here one can see her ideal of free and courageous woman. On this question, Carolina thus wrote: “At night while they call for help, I quietly in my hovel hear Viennese waltzes. While the husbands break the hovel boards, my children and I sleep peacefully. I do not envy the married women of the slum who lead the lives of Indian slaves. I didn’t marry and I’m not displeased.” While working as a waste picker, Carolina recorded in the notebooks she found in the material collected on her journey, the daily life of the community where she lived. She was discovered in 1958, by photographer and reporter Audálio Dantas, and that same year excerpts from her diary were published in the Folha da Noite newspaper, and it was the publication of these notebooks that gave rise to her most famous book: “Eviction Room: Diary of a Slum Dweller”, with an initial circulation of 10,000 copies, which sold out in one week. This work sold over one million copies and was translated into fourteen languages, making it one of the best known Brazilian books abroad. This publication brought to Carolina expressions of dissatisfaction from the slum dwellers, who accused her of having published their lives and difficulties without authorization. These people did not understand that precisely the misery and life they led in that environment, motivated our writer in her true battle cry. This book represented the driving force of her work marked by the naked and raw reality of the slum focused on the book. “Eviction Room” has changed her life. After her publication in 1960, she moved to Santana, a middle class neighborhood in the North Zone of São Paulo. In 1961, he published “Casa de Alvenaria (House of Masonry)”, and, in 1963, on her own, published the novel “Pedaços de Fome (Pieces of Hunger)” and the book “Provérbios (Proverbs)”. In 1969, Carolina moved from Santana to Parelheiros, an arid region of the South Zone of Sao Paulo, at the foot of a hill. In this place, characterized by strong contrasts between rich and poor, where the air was polluted by the industries of the Greater ABC region, Carolina spent much of her time alone, reading the newspaper and planting corn and vegetables. Meanwhile, her verses and manuscripts flowed and were used after her death to inspire future works, such as: “Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus (Black Cinderella: The Saga of Carolina Maria de Jesus)” (1994), by José Carlos Meihy e Robert Levine; “Muito Bem, Carolina!: Biografia de Carolina Maria de Jesus (Very Well, Carolina !: Biography of Carolina Maria de Jesus)” (2007), by Eliana Moura de Castro and Marília Novais de Mata Machado; “Carolina Maria de Jesus – Uma escritora improvável (Carolina Maria de Jesus – An unlikely write)” (2009), by Joel Rufino dos Santos; “A vida escrita de Carolina Maria de Jesus”, de Elzira Divina Perpétua; and “Carolina: uma biografia (Carolina: A Biography)” (2018), by Tom Farias. This was Carolina Maria de Jesus. Her verses define her as a sad poet in her inquiries. Let us see: Poet, why do you cry? What a sad melancholy. It is because my soul ignores The splendor of joy. This smile that emanates from me, My own soul deceives. Now, Carolina Maria de Jesus enriches Brazilian Philately with her presence on a postage stamp.

Maria de Lourdes Torres de Almeida Fonseca

Writer, Chair 35 of the Academy of Letters and Music of Brazil- ALMUB


Technical Details

Stamp issue N. 24

Photo: Family collection

Art finishing: Jamile Costa Sallum and Daniel Eff/Correios

Print system: offset

Paper: gummed chalky paper

Sheet with 18 stamps

Facial value: 1st class rate for domestic commercial mail

Issue: 54,000 stamps

Design area: 21 x 39mm

Stamp dimensions: 26 x 44mm

Perforation: 11.5 x 11

Date of issue: October 4th, 2019

Places of issue: Sacramento/MG and São Paulo/SP

Printing: Brazilian Mint




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