Sobre o Selo
Essa emissão é composta por seis selos, celebrando seis Mulheres que fizeram e fazem história. A primeira homenageada é a cantora e compositora dona de uma das melhores vozes da música brasileira, a inigualável Elza Soares. A imagem é uma foto que foi tirada durante um show no Centro de Convenções Ulysses Guimarães em Brasília. O elo desta emissão é o símbolo da mulher, que consta em todos os selos. A folha com borda na cor magenta, é composta por 18 selos, tendo o título da emissão no canto superior esquerdo e no canto superior direto desenhos estilizados de um microfone e notas musicais.
Foram usadas as técnicas de fotografia e computação gráfica.
Mulheres que Fizeram História
Elza Soares
Os selos postais, desde o seu surgimento, em 1840, na Inglaterra, iniciaram a grandiosa missão de propagar a história universal e de comunicar os grandes e abnegados feitos daqueles que se dedicaram à construção de valorosas obras em vários contextos socioculturais. Assim, o primeiro selo postal do mundo, o penny black, exibia a efígie da Rainha Vitória, perpetuando o perfil de uma soberana inglesa, reconhecida por sua coragem e determinação frente aos desafios de sua época. Daí compreendermos que o selo já nasceu predestinado a marcar com nobreza os fatos por ele assinalados. São inúmeros os selos postais brasileiros dedicados às mulheres e suas obras. É gratificante verificar o quão nobre tem sido a presença da mulher na Filatelia, destacando a sua função em vários contextos, mostrando que as mulheres estão cada vez mais conscientes dos papéis que desempenham na sociedade. É, portanto, justo que mulheres valorosas tenham as suas contribuições e os seus valores perpetuados em selos postais. Os selos postais chegaram ao século 21 comunicando personalidades, obras e aspectos artísticos, históricos, sociais, ambientais e desportivos, que o Brasil e o mundo precisam reverenciar. Nesse contexto, as mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais importante na sociedade, vencendo lutas de vários significados, buscando assegurar seus direitos frente a uma vida digna, segura e pautada no respeito à liberdade, à igualdade e defesa de seus ideais. Mais uma vez, a filatelia brasileira tem a honra de lançar a emissão de selos Mulheres que Fizeram História, destacando seis personalidades reconhecidas por seus méritos na luta por ideais de paz e de amor às causas que abraçaram. São elas: Elza Soares, Hortência Marcari, Hebe Camargo, Carolina Maria de Jesus, Maria da Penha e Aracy de Carvalho Guimarães Rosa. As mulheres merecem essa honraria, que também dignifica e enriquece a Filatelia brasileira. Esses selos representam o reconhecimento do Brasil e do mundo à história de vida, de trabalho e de força que as motivaram na tarefa de transformar o mundo. No primeiro selo desta Série contaremos a história da cantora e compositora Elza Soares, que nasceu chamada Elza Gomes da Conceição, em 23 de junho de 1930 ou 1937, na favela da Moça Bonita, atualmente Vila Vintém, no Bairro de Padre Miguel/Rio de Janeiro. Filha de uma lavadeira e de um operário, ainda pequena, mudou-se com a família para um cortiço no bairro da Água Santa, onde foi criada. A história de Elza Soares foi escrita com ingredientes singulares de pobreza, sofrimento, determinação, coragem, talento, resiliência e persistência. Aos 11 anos de idade foi obrigada a abandonar os estudos para se casar com Lourdes Antônio Soares, amigo de seu pai. Elza sofreu muito com esse matrimônio, sendo submetida constantemente ao infortúnio da violência sexual e doméstica. Aos 12 anos de idade nasceu o seu primeiro filho. Uma grande dor brota em seu coração, quando seu segundo filho morre de fome. Em meio a tantas lutas e perdas, Elza Soares tinha o sonho de ser cantora. Sua primeira apresentação ao vivo, em um Auditório, ocorreu em 1953, no programa de Ary Barroso, na Rádio Tupy. Em vista de seu jeito humilde de falar e de se vestir, intrigou o apresentador do Programa, que lhe fez a seguinte pergunta: - De que planeta você veio? Ao que Elza respondeu: - Vim do mesmo planeta que o senhor. E ele, intrigado, indagou: - E de que planeta eu sou? E ela: - Do planeta Fome. Esse episódio marcou o início de sua carreira musical. A biografia de Elza Soares é repleta de fatos tristes, que poderiam tê-la impedido de continuar a vida. No entanto, foi com o seu talento musical, dotado de surpreendente força vocal, que a nossa heroína conseguiu ser Estrela das mais reluzentes entre nós. Com sua voz rouca e envolvente, Elza propagava, com o clamor das letras de suas composições, a sua própria vida. Em 1960, passou a trabalhar apenas com música, cantando semanalmente no Rádio. Depois, foi convidada para se apresentar na Televisão, realizando nesse mesmo ano, uma turnê internacional, consolidando, assim, o tom grave e rouco de sua voz. Suas músicas esbanjavam emoção em torno do sofrimento, do amor e das paixões, mostrando que esses ingredientes também temperavam a sua existência e a de seus ouvintes e admiradores de sua música. Vale destacar sua nobreza de caráter e seu olhar de compaixão para com os algozes que a vitimaram, quando perdoou os sequestradores de sua filha, desaparecida em 1959, com apenas um ano de idade. Essa criança foi encontrada já adulta, após anos de buscas, onde policiais e detetives foram incansáveis na procura. Perdoou os criminosos, demonstrando que o perdão é possível, mesmo ante a revolta e a dor. Conheceu Manoel Francisco dos Santos, a Garrincha, em 1962, vinculando sua existência a esse consagrado jogador de futebol. Foi um relacionamento tumultuado, no qual lutou contra traições, alcoolismo e perdas, que abalaram sua vida. Em um acidente de carro, dirigido por Garrincha, alcoolizado, perdeu sua mãe, fato que lhe provocou imensa dor e culpa. Novamente Elza Soares precisou reinventar sua jornada de mulher preparada para o sofrimento. Com Garrincha, Elza teve apenas um filho, que nasceu em 9 de julho de 1976, e faleceu em 1986. Após o fim do casamento com Garrincha, em 1982, Elza teve outros relacionamentos, mas não voltou a casar-me. Sua Discografia, de 1960 a 2018, é vasta. Começou com “Se acaso você chegasse” (Odeon, 1960). A partir daí não parou mais de cantar, até hoje. Foi amiga de Cazuza, gravando, em 2010, a faixa Brasil, no disco Tributo a Cazuza, produzido pelo saxofonista George Israel, da Banda Kid Abelha. Em sua história, várias são suas conquistas e referências musicais de grande projeção. Em 2019, recebeu o título de doutora Honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A partir de 2008, o longa-metragem “My name is Now, Elza Soares”, realizado pela IT Filmes já rodou 18 Festivais, recebendo as melhores referências, em vista da originalidade e valores da vida e obra de nossa protagonista. Elza consagra-se por elevar o samba, alegrar o povo, cantar o carnaval e suas alegorias, perenizar o amor, combater a violência doméstica, defender a mulher, o negro e as minorias, praticar o perdão e fortalecer o coração frente às lutas, à pobreza, à solidão e às paixões. Em uma de suas canções, Elza expressa: – “A pele preta e a minha voz na Avenida deixei lá”. Elza pede com sua voz rouca em seu mais ardente e vibrante tom. – “Me deixem cantar até o fim” – (do Álbum A mulher do fim do mundo – 2015). Certamente, seu canto ecoará, sempre, mostrando que a vida é possível, pois, esta mulher cantou “a minha voz eu uso pra dizer o que se cala” (do Álbum oficial 2018 – Deus é mulher). E mais... “Pra que sujar o chão da própria sala? Nosso País é o nosso lugar de fala...”.
Maria de Lourdes Torres de Almeida Fonseca
Escritora, Cadeira 35 da Academia de Letras e Música do Brasil - ALMUB
Detalhes Técnicos
Edital nº 15
Foto: Patricia Lino
Arte-finalização: Jamile Costa Sallum e Daniel Eff/Correios
Processo de Impressão: ofsete
Papel: cuchê gomado
Folha com 18 selos
Valor facial: 1º Porte Carta Comercial
Tiragem: 54.000 selos
Área de desenho: 21 x 39mm
Dimensão do selo: 26 x 44mm
Picotagem: 11,5 x 11
Data de emissão: 23/7/2019
Local de lançamento: Rio de Janeiro/RJ
Impressão: Casa da Moeda do Brasil
About the Stamp
This issue is composed of six stamps, celebrating six Women who made and make history. The first honoree is the singer and songwriter, owner of one of the best voices of Brazilian music, the unequaled Elza Soares. The image is a photo that was taken during a show at the Ulysses Guimarães Convention Center in Brasilia. The link of this issue is the symbol of the woman, which appears on all stamps. The sheet with border in magenta color, is composed of 18 stamps, bearing the title of the issue in the upper left corner and in the upper right corner stylized designs of a microphone and musical notes.
The techniques of photography and computer graphics were used.
Women Who Made History
Elza Soares
Since its establishment in 1840 in England, postage stamps have begun the great mission of propagating universal history and of communicating the great and selfless achievements of those who have devoted themselves to the construction of valuable works in various sociocultural contexts. Thus, the world’s first postage stamp, the penny black, displayed the effigy of Queen Victoria, perpetuating the profile of an English sovereign, renowned for her courage and determination in the face of the challenges of her day. Hence, we understand that the stamp was born predestined to mark with noblesse the facts that it pointed out. There are innumerable Brazilian stamps dedicated to women and their works. It is gratifying to see how noble the presence of women in Philately has been, highlighting their role in various contexts, showing that women are increasingly aware of the roles they play in society. It is therefore just that valiant women should have their contributions and their values perpetuated in postage stamps. Postage stamps arrived in the 21st century, communicating personalities, works and artistic, historical, social, environmental and sporting aspects that Brazil and the world need to revere. In this context, women have played an increasingly important role in society, overcoming struggles of various meanings, seeking to ensure their rights to a dignified and safe life based on respect for freedom, equality and defense of their ideals. Once again, Brazilian philately has the honor to launch the issue of Women Who Made History, highlighting six personalities recognized for their merits in the struggle for ideals of peace and love for the causes they embraced. They are: Elza Soares, Hortência Marcari, Hebe Camargo, Carolina Maria de Jesus, Maria da Penha and Aracy de Carvalho Guimarães Rosa. Women deserve this honor, which also dignifies and enriches Brazilian Philately. These stamps represent the recognition of Brazil and the world to the history of life, work and strength that motivated them in the task of transforming the world. In the first stamp of this Series we will tell the story of the singer and composer Elza Soares, who was born Elza Gomes da Conceição on June 23, 1930 or 1937, in the Moça Bonita slum, currently Vila Vintém, in the district of Padre Miguel, in the city of Rio de Janeiro. Daughter of a washerwoman and a worker, she moved with her family to a slum tenement in the district of Água Santa, where she grew up. The story of Elza Soares was written with unique ingredients of poverty, suffering, determination, courage, talent, resilience and persistence. At the age of 11 she was forced to drop out of school to marry Lourdes Antônio Soares, a friend of her father. Elza suffered greatly from this marriage, constantly being subjected to the misfortune of sexual and domestic violence. At 12 years of age her first child was born. A great pain springs up in her heart when her second child starves. During so many struggles and losses, Elza Soares had the dream of being a singer. Her first live performance, in an Auditorium, took place in 1953, in the program of Ary Barroso, in Radio Tupy. In view of her humble way of talking and dressing, she intrigued the presenter of the Program, who asked her the following question: “From what planet did you come?” To which Elza replied “I came from the same planet as you”. And the presenter, intrigued, asked, “And what planet am I from?” And she answered: “From the planet Hunger”. This episode marked the beginning of her musical career. The biography of Elza Soares is full of sad facts that could have prevented her from continuing her life. However, it was with her musical talent, endowed with surprising vocal force, that our heroine managed to be a Star of the most sparkling among us. With her husky and engaging voice, Elza propagated her own life with the clamor of the lyrics of her compositions. In 1960, she began to work only with music, singing weekly on Radio. Then, she was invited to perform on television, performing that same year, an international tour, consolidating, thus, the grave and husky tone of her voice. Her songs were filled with emotion around suffering, love and passions, showing that these ingredients also tempered her existence and that of her listeners and admirers of her music. It is worth noting her nobility of character and her look of compassion for the torturers who victimized her, when she pardoned the abductors of her daughter, who disappeared in 1959, with only one year old. This child was found already adult, after years of searches, where police and detectives were tireless in the search. She has forgiven the criminals, demonstrating that forgiveness is possible, even in the face of revolt and pain. She met Manoel Francisco dos Santos, Garrincha, in 1962, linking her existence to this well-known soccer player. It was a tumultuous relationship, in which she fought against betrayals, alcoholism and losses that shook her life. In a car accident, driven by Garrincha, that was drunk, she lost her mother, which caused her immense pain and guilt. Again, Elza Soares had to reinvent her journey as a woman prepared for suffering. With Garrincha, Elza had only one son, who was born on July 9, 1976, and died in 1986. After the marriage with Garrincha in 1982, Elza had other relationships, but she did not remarry. Her Discography, from 1960 to 2018, is vast. It started with “Se acaso você chegasse (If by chance you arrived)” (Odeon, 1960). She was a friend of Cazuza, recording in 2010 the track “Brasil (Brazil)”, in the disc “Tributo a Cazuza”, produced by the saxophonist George Israel, of the Band Kid Abelha. In its history, several are its conquests and musical references of great projection. In 2019, she received the Doctor Honoris degree from the Federal University of Rio Grande do Sul. As of 2008, the feature film “My name is Now, Elza Soares”, made by IT Filmes has already participated in 18 Festivals, receiving the best references, in view of the originality and values of the life and work of our protagonist. Elza consecrates herself by elevating samba, rejoicing the people, singing the carnival and its allegories, perpetuating love, combating domestic violence, defending the woman, the black and minorities, practicing forgiveness and strengthening the heart in the face of struggles, poverty, loneliness and passions. In one of her songs, Elza expresses: – “The black skin and my voice on the Avenue, I left there”. Elza asks with her husky voice in her most ardent and vibrant tone. – “Let me sing until the end” – (from the album “A mulher do fim do mundo (The Woman at the End of the World)” – 2015). Certainly, her singing will echo, always, showing that life is possible, because, this woman sang “my voice I use to say what is silent” (from the “Álbum oficial 2018 – Deus é mulher (Official Album 2018 – God is Woman)”). And more... “Pra que sujar o chão da própria sala? Nosso País é o nosso lugar de fala...” (Why dirty the floor of the room itself? Our Country, our place of speech... ).
Maria de Lourdes Torres de Almeida Fonseca
Writer, Chair 35 of the Academy of Letters and Music of Brazil- ALMUB
Technical Details
Stamp issue N. 15
Photo: Patricia Lino
Art finishing: Jamile Costa Sallum and Daniel Eff/Correios
Print system: offset
Paper: gummed chalky paper
Sheet with 18 stamps
Facial value: 1st class rate for domestic commercial mail
Issue: 54,000 stamps
Design area: 21 x 39mm
Stamp dimensions: 26 x 44mm
Perforation: 11.5 x 11
Date of issue: July 23rd, 2019
Place of issue: Rio de Janeiro/RJ
Printing: Brazilian Mint
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