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Lançamento | Alfabeto em LIBRAS

Atualizado: 28 de set. de 2020


Sobre os Selos

A arte da folha é composta pelas 26 letras do alfabeto em LIBRAS representadas através de imagens pictóricas de fácil reconhecimento e linguagem contemporânea. Para enriquecer ainda mais essa emissão, outras 4 palavras e expressões importantes foram acrescidas ao conjunto, fechando assim a folha de 30 selos: Brasil, Brincar, Eu te Amo e Acessível em Libras. A arte foi produzida com tinta especial em um tom de laranja vibrante, tinta UV e calcografia, que conferem destaque e importância para essa iniciativa inédita dos Correios.






Acesse com seu celular para ler este texto em LIBRAS

O Alfabeto Manual da Língua Brasileira de Sinais: a LIBRAS e as potências de Ser Surdo

“Eu tenho orgulho de ser Surdo!” – essa foi, e ainda é, uma poderosa afirmação feita por muitas pessoas surdas ao redor do mundo. Esse orgulho é a força motriz da luta pela virada da compreensão social sobre as pessoas surdas e suas potencialidades individuais e coletivas.

Não existe uma língua de sinais universal compartilhada por todos os surdos do mundo Nos países onde são encontradas, essas línguas gestuais são fruto das interações entre pessoas surdas em seus coletivos. Cada país desenvolve ações para suas respectivas línguas de sinais – ASL nos Estados Unidos, BSL na Inglaterra, LSCh no Chile, Auslan na Austrália, LIBRAS no Brasil, entre outras [Cf. Lei de LIBRAS, nº 10.436/2004]. Tal como as línguas orais, em um mesmo país podemos identificar

regionalismos e podemos nos deparar com formas emergentes dessas línguas em localidades fora dos centros urbanos (como por exemplo, as línguas de sinais faladas por coletivos surdos indígenas.).Em muitos países, essas línguas são o caminho pelo qual as Comunidades Surdas lutam pelo direito à autodeterminação e respeito aos seus modos de existir.

Desde o século XVIII, a formação organizada das Comunidades Surdas e suas línguas de sinais, pelo mundo, foi marcada pela institucionalização educacional de crianças surdas. No Brasil, em 26 de setembro de 1857, o Imperador Pedro II, motivado pela proposta do educador surdo e francês E. Huet, funda no Rio de Janeiro o Instituto Imperial dos Meninos Surdos-Mudos, que hoje conhecemos como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). A fundação do INES como um espaço educativo de surdos, assim como a criação de outras instituições brasileiras especificas para educação de surdos em várias capitais brasileiras nos meados de 1960, foi a principal política de formação dos agrupamentos que geraram as Comunidades Surdas brasileiras.

Um marco dos Movimento Surdos é a produção de novas concepções sobre as qualidades e dificuldades do Ser Surdo no mundo, marcado pelo estigma da diferença como deficiência. Essa nova maneira de compreensão tem como principal bandeira o protagonismo das próprias pessoas surdas, suas experiências e modos de compreensão dos sistemas sociais, comunicativos e familiares. A visão surda sobre o mundo é, nessa perspectiva, mais do que apenas uma experiência com a aparente ausência do som. Afinal de contas o som é uma experiência física que não é só interpretada pelos ouvidos. Assim como a língua é uma experiência linguística que não depende exclusivamente da voz. Nessa perspectiva, a surdez se torna uma condição de corpo como diversas outras. Identificada no nascimento ou adquirida ao longo da vida, ser surdo é uma dentre as complexas diversidades que formam nossas sociedades. Ser surdo não é não uma falta, incompletude ou doença que determina a anulação das capacidades desses sujeitos. Precisamos enxergar os surdos como sujeitos integrais e complexos inseridos nas redes sociais humanas.

Um assunto sensível são os processos de opressão vividos pelos surdos. O conceito de ouvintismo [Cf. LANE. “A máscara da benevolência”, 1992] designa as estruturas de preconceito e discriminação que negam a autenticidade das pessoas surdas. A ideia de que o normal e melhor é ser como as pessoas que ouvem orienta negativamente decisões e comportamentos políticos, educativos, religiosos e familiares. Nos processos de institucionalização de crianças surdas existem relatos nos quais a obrigação de falar uma língua oral, de ler lábios e a proibição do uso de línguas de sinais eram tidos como indispensáveis para o reconhecimento dos surdos pelo restante da sociedade. Contudo, as línguas de sinais não são uma proposta de negação das línguas orais e de segregação dos surdos. A bandeira levantada pelas Comunidades Surdas passa pelo bilinguismo – em nosso caso LIBRAS/Português.

Existem estudos que comprovaram que as línguas de sinais têm valor linguístico e estruturas gramaticais como qualquer outra língua, e os usuários dessas línguas compartilham estruturas, valores, imaginários e campos simbólicos próprios. A criação de cursos de graduação em Letras LIBRAS, a produção de Literaturas Surdas, os Festivais de Arte e Cultura Surda, as Associações e os Movimentos Sociais Surdos têm cooperado para difusão da LIBRAS sem separar essa língua dos modos culturais de organização dos coletivos surdos brasileiros.

As produções em coletivos surdos não formam apenas um conjunto de saberes tácitos e/ou discursivos passados entre as gerações. A experiência de Ser Surdo tem feito emergir nas universidades e centros de pesquisa epistemologias que revisam os conhecimentos antes aparentemente consolidados. Uma marca significativa dessa mudança de curso acadêmico-profissional é a entrada de pessoas surdas em diversas frentes de pesquisa, produção e intervenção da realidade social –tanto como consumidores, assim como produtores de conteúdo.

A presença ativa de pessoas surdas é uma ferramenta importantíssima nas políticas desenvolvidas para as próprias pessoas surdas. Por isso, ao sermos procurados pelos Correios, o INES compreendeu que os mais aptos para a consultoria dos seriam os professores surdos que lecionam LIBRAS na instituição. São eles os especialistas e os principais representados pelos efeitos desse projeto. Em nossa instituição, desde a entrada desses professores efetivos surdos, há menos de dez anos, presenciamos uma forte concretização dos efeitos do protagonismo surdo. Quando os surdos deixam de ser mero objeto de estudo, informantes e sujeitos passivos nos processos institucionais para se tornarem agentes autodeterminantes, produtores e pensadores, então, o jogo começa a mudar. Só assim os surdos começarão a ocupar o lugar de escritores de suas próprias histórias.

Ao lançar uma série de selos com o Alfabeto Manual da Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida pela sigla LIBRAS, os Correios se tornam um forte apoiador da luta dos movimentos sociais surdos brasileiros. Uma ação muito significativa na difusão da Línguas Brasileira de Sinais e dos valores políticos e sociais que essa língua tem para as Comunidades Surdas do nosso país.

RAMON SANTOS DE ALMEIDA LINHARES

Mestre, Tradutólogo e Pesquisador em Estudos Surdos

Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES/MEC

ANA REGINA E SOUZA CAMPELLO

Doutora, Professora e Pesquisadora em Estudos Surdos e de Educação

Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES/MEC

Detalhes Técnicos

Edital nº 13

Arte: Fabio Lopez

Processo de Impressão: Ofsete + tinta calcográfica + tinta UV

Papel: cuchê gomado

Folha com 30 selos

Valor facial: R$ 2,05

Tiragem: 1.050.000 selos

Área de desenho: 30 x 40mm

Dimensão do selo: 30 x 40mm

Picotagem: 12 x 11,5

Data de emissão: 23/9/2020

Locais de lançamento: Brasília/DF, Curitiba/PR e Rio de Janeiro/RJ

Impressão: Casa da Moeda do Brasil



 

Special Postal Issue Alphabet in LIBRAS

About the Stamps

The art of the sheet is composed of 26 letters of the LIBRAS alphabet represented by pictorial images of easy recognition and contemporary language. To further enrich this issue, other 4 important words and expressions were added to the set, thus concluding the sheet of 30 stamps: Brazil, To Play, I Love You

and LIBRAS Accessible. The art was produced with special ink in a vibrant orange tone, UV ink and calcography, that give prominence and importance to this unprecedented initiative by Correios Brasil.

The Manual Alphabet of the Brazilian Sign Language: LIBRAS and the potentials of Being Deaf

”I am proud to be Deaf!” – this was, and still is, a powerful statement made by many deaf people around the world. This pride is the driving force of the struggle for the turning of social understanding about deaf people and their individual and collective potential.

The Manual Alphabet of the Brazilian Sign Language, better known by the acronym LIBRAS, has the function of making a “bridge” between words from oral languages to sign languages. When you manually spell the spelling of these words, each letter corresponds to a format assumed by the hand, a linguistic phenomenon called transliteration loan occurs. It is a way of transposing the graphic system of one language to the physicality of another, that is, from the written sound to the signaled gesture. However, these languages are not limited to or depend on the letters of manual alphabets or oral languages, as they are complex grammatical systems.

There is no universal sign language shared by all the deaf in the world. In the countries where they are found, these sign languages are the result of

interactions between deaf people in their collectives. Each country develops actions for their respective sign languages - ASL in the United States, BSL in England, LSCh in Chile, Auslan in Australia, LIBRAS in Brazil, among others. Like oral languages, in the same country we can identify regionalisms and come across forms emerging from those languages in locations outside urban centers (such as, for example, sign languages spoken by indigenous deaf collectives.) In many countries, these languages they are the way in which the Deaf Communities fight for the right to self-determination and respect for their ways of existing.

Since the 18th century, the organized formation of Deaf Communities and their sign languages around the world has been marked by the educational institutionalization of deaf children. In Brazil, on September 26, 1857, Emperor Pedro II, motivated by the proposal of the deaf and French educator E. Huet, founded in Rio de Janeiro the Imperial Institute of Deaf-Mute Boys, which today we know as the National Education Institute of Deaf (INES). The founding of INES as an educational space for the deaf, as well as the creation of other Brazilian institutions for the education of the deaf in several Brazilian capitals in the mid-1960s, was the main policy for the formation of the groups that generated the Brazilian Deaf Communities.

A milestone of the Deaf Movement is the production of new conceptions about the qualities and difficulties of the Deaf Being in the world, marked by the stigma of difference as a disability. This new way of understanding has as its main banner the role of deaf people, their experiences and ways of understanding social, communicative and family systems. The deaf view of the world is more than just an experience with the apparent absence of sound. After all, sound is a physical experience that is not only interpreted by the ears. Just as the language is a linguistic experience that does not depend solely on the voice. In this perspective, deafness becomes a body condition like many others. Identified at birth or acquired throughout life, being deaf is one of the complex diversities that make up our societies. Being deaf is not a fault, incompleteness or illness that determines the cancellation of certain abilities. We need to see the deaf as integral and complex subjects inserted in human social networks.

A sensitive issue is the processes of oppression experienced by the deaf. The concept of listenerism designates the structures of prejudice and discrimination that deny the authenticity of deaf people. The idea that what is normal and best is to be like the people who listen negatively guides political, educational, religious and family decisions and behaviors. In the institutionalization processes of deaf children, there are reports in which the obligation to speak an oral language, to read lips and the prohibition of the use of sign languages were considered indispensable for the recognition of the deaf by the rest of society. However, sign languages are not a proposal to deny oral languages and segregate deaf people. The flag raised by the Deaf Communities goes through bilingualism - in our case LIBRAS / Portuguese.

There are studies that have shown that sign languages have linguistic value and grammatical structures like any other language, and users of these languages share their own structures, values, imagery and symbolic fields. The creation of undergraduate courses in Letras LIBRAS, the production of Deaf Literatures, the Deaf Art and Culture Festivals, Associations and Deaf Social Movements have cooperated to spread LIBRAS without separating this language from the cultural modes of organization of Brazilian deaf collectives.

The productions in deaf collectives do not form just a set of tacit and / or discursive knowledge passed between generations. The experience of Being Deaf has made epistemologies emerge in universities and research centers that review previously consolidated knowledge. A significant mark of this change in academic and professional course is the entry of deaf people on different fronts of research, production and intervention in social reality - both as consumers and as content producers.

The active presence of deaf people is an extremely important tool in policies developed for deaf people themselves. Therefore, when we were contacted by the Correios Brasil, INES understood that the most apt for consulting the stamps would be the deaf teachers who teach LIBRAS at the institution. They are the experts and the main ones represented by the effects of this project. In our institution, since the entry of these teachers, less than ten years ago, we have witnessed a strong realization of the effects of deaf protagonism. When the deaf cease to be a mere object of study, informants and passive subjects in institutional processes to become self-determining agents, producers and thinkers, then the game begins to change. Only then will the deaf begin to take the place of writers of their own stories.

By launching a series of stamps with the Alphabet in LIBRAS, the Correios Brasil became a strong supporter of the struggle of the Brazilian deaf social movements. A very significant action in the diffusion of the Brazilian Sign Languages and the political and social values that this language has for the Deaf Communities of our country.

RAMON SANTOS DE ALMEIDA LINHARES

Master, Translator and Researcher in Deaf Studies

National Institute of Deaf Education - INES / MEC

ANA REGINA E SOUZA CAMPELLO

PhD, Professor and Researcher in Deaf and Education Studies

National Institute of Deaf Education - INES / MEC

Technical Details

Stamp issue N. 13

Art: Fabio Lopez

Print system: offset + intaglio ink + UV ink

Paper: gummed chalky paper

Sheet with 30 stamps

Facial value: R$ 2.05

Issue: 1,050,000 stamps

Design area: 30 x 40mm

Stamp dimensions: 30 x 40mm

Perforation: 12 x 11.5

Date of issue: September 23rd, 2020

Places of issue: Brasília/DF, Curitiba/PR and Rio de Janeiro/RJ

Printing: Brazilian Mint

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