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História de uma carta - CARTA DE 1829 DO PARÁ PARA NANTES, FRANÇA | Klerman Lopes

Atualizado: 30 de mar. de 2020

Klerman Wanderley Lopes, fevereiro de 2012

Introdução

Há 2 anos adquiri em leilão na França a interessante carta aqui apresentada. Em sua descrição o vendedor citava “Lettre du Para, 1829” e enfatizava especialmente a linda marca de origem “Guyane Française” e a rara marca de entrada “Pays d’Outremer par Paimbeauf”. Solicitando imagem do seu interior, verifiquei tratar-se de carta originária da Provincia brasileira do Pará e me empenhei em adquirí-la, o que consegui.


Por essa época, quase todo o comércio marítimo em direção à Europa a partir do Brasil realizava-se através dos paquetes ingleses que serviam mensalmente aos portos do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Os demais portos brasileiros admitiam apenas veleiros de baixo calado e pequeno porte, extremamente susceptíveis aos perigos da naveçação trans- oceânica.


O remetente dessa correspondência, comerciante francês em viagem pelo interior do Pará, optou por escrever ao seu pai, em Nantes, na França, utilizando-se do correio regular que aquele país mantinha com a sua colônia na América do Sul, a Guiana Francesa. Para tanto, enviou a correspondência por via fluvial margeando a foz oriental do Rio Amazonas e solicitou a um portador que a colocasse no correio francês em Caiena. Tal providência representava uma enorme economia de tempo e dinheiro, à alternativa de uso do serviço postal Imperial brasileiro, com o transporte da correspondência até Pernambuco, percorrendo todo o litoral norte e parte do nordeste do Brasil.

Apresentação da peça filatélica


Frente:

Carta da Província do Pará de 2 de outubro de 1829 para Nantes (França). Enviada em mãos por navio costeiro até Caiena (Guiana Francesa), onde foi colocada no correio local, recebendo a marca linear “GUYANE FRANCAISE” em vermelho. Dali foi enviada à França por navio mercante até o porto de Paimboeuf, onde recebeu o carimbo circular de 23 de dezembro de 1829 e a marca retangular de entrada “PAYS D’OUTREMER / PAR PAIMBOEUF” (utilizada de 1829 a 1830), ambos em negro. Despachada a Nantes (distante 37 Km), ali recebeu a taxa de 3 décimos, referente à tarifa francesa de 2 décimos para uma distância terrestre até 40km (vigente desde 1º de janeiro de 1828), acrescida da taxa fixa de 1 décimo pela “via de mar”. No verso, o carimbo circular de chegada ao destino datado de 24 de dezembro de 1829. Trata-se da única carta proveniente do Brasil com aquela marca de entrada na França.


Detalhe do interior da carta:


Pouco tempo depois adquiri outra correspondência postada em Caiena, atraído pela menção manuscrita “Courier du Brésil” na sua frente. Não consegui imagem do seu interior com o ofertante mas decidi comprá-la mesmo assim, imaginando que fosse outra carta originária do Brasil. Dessa vêz não tive a mesma sorte. A carta endereçada a Bordeaux, datada de 18 de janeiro de 1843, com a marca de partida “Guyane Française” em negro, marca de entrada “Outre-Mer Pauillac” e taxada em 4 décimos de Franco fora escrita em Caiena e nela não havia qualquer menção ao nosso País. De qualquer forma, embora não tenha notícia de outra correspondência com a mesma menção manuscrita, poder-se-ia imaginar a hipótese de fluxo regular de cartas? Espero adições e comentários por parte de nossos estudiosos.



Informações adicionais:

A França possuía uma extensa rede de navios de comércio que serviam ao seu extenso Império Colonial e a diversos países em todo o mundo. A costa atlântica e mediterrânea francesa abrigava dezenas de portos e o destino desses navios correspondia ao local de residência de seus capitães ou da sede das companhias proprietárias das embarcações.


A cidade de Nantes situa-se às margens do Rio Loire, um dos mais importantes da França. Na primeira metade do século XIX tinha intensa atividade comercial com as Colônias e era o mais importante entreposto europeu de escravos oriundos da África. Na sua foz situam-se o importante porto de Saint-Nazaire e, na margem oposta, o porto secundário de Paimboeauf


Artigo gentilmente cedido pelo autor.

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